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Continuando o post anterior...
Na postagem anterior, escrevi
cinco dicas que eu gostaria de ter sabido antes ou até durante o mestrado
mesmo. Mas clareza é um termo que é construído com o tempo. Geralmente é quando
olhamos para trás que conseguimos ver os pontos se ligando. Continuando aquela
conversa, seguem as cinco dicas que faltaram:
6- Leia sobre como escrever.
Isso me ajudou muito na vida
pós-mestrado. Sim, poderia ter sido durante, mas a rotina excruciante de
trabalho que eu tinha na época não me permitiu fazer nada melhor do que fui
capaz de fazer.
Ler sobre como escrever me deu
noção que existem técnicas e que a escrita não precisa ser aquele exercício
quase infinito de escrever e apagar e escrever e chorar... Por exemplo, os
Mapas Mentais, que depois acabei batizando de Mapas Mentais Acadêmicos,
funcionam como planejadores de ideias e seções. Ajudam muito. Tem muita coisa
aqui no blog sobre isso.
7- Peça feedbacks.
Eu sou inteiramente vigostkiana
quando se trata de desenvolvimento das aprendizagens, até com adultos. Muita
gente fala da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) como uma articulação entre
sujeitos da aprendizagem no que tange a trocas e intervenções produtivas nos
processos de construção do aprender. A zona de desenvolvimento proximal
situa-se entre a zona de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento
potencial proporcionando o avanço de uma situação inferior para outra de maior
conhecimento. (REGO, 1995).
Eu tive oportunidade de fazer
mestrado com uma amiga de muitos anos e uma trabalhou com a outra, embora eu
falasse de Sociologia da Educação e ela falasse de Educação em Direitos
Humanos. Assim, uma apoiou a outra sendo leitora de controle dos trabalhos e
fazendo inferências, sempre que fosse possível.
Leitor de controle é o nome da
pessoa que você implora para ler seus trabalhos e dar uma “corrigida” de leve.
O seu orientador provavelmente não irá fazer isso. Então, a gente se vira como
dá. Essa dica eu usei e fez muita
diferença na qualidade da minha produção acadêmica.
Ah, claro, se você pediu para
alguém ser seu leitor de controle, se ofereça para ser o (a) dele (a) também.
Bom senso! Ninguém tem tempo hoje em dia.
8- Apresente trabalhos.
Apresentar trabalhos acadêmicos
em congressos e afins é muito importante. Disso todo mundo sabe. Mas, que tal
apresentar aquele trabalho de final de disciplina? Sim, ele já está pronto e
sim, ele é inédito. Além de alimentar seu currículo, você tem oportunidade de
troca. Ouvir o que estão produzindo e que é correlato ao seu tema e falar
também.
Na escuta atenta, conseguimos
concatenar ideias sobre os próximos passos da nossa dissertação. Não despreze
esses momentos, são relevantes à sua formação. Sobre a fala, ao longo desses
anos tratando sobre dicas de escrita, vejo que o texto acadêmico nasce mesmo do
que estamos falando. A organização do discurso é, dessa forma, estruturante
para pensar onde se está e aonde se quer chegar. Helen Sword, uma pesquisadora
dos processos de produção acadêmica fala das conversas acadêmicas como
oportunidades de reelaboração da narrativa e geração de novas ideias.
E quando alguém te perguntar
sobre a dissertação, encare como uma oportunidade de conversa e geração de novos
links sobre seu tema. Nossa tendência não é essa, eu sei. Eu ficava irritada e
achava que a pessoa estava de ironia comigo. Se identificou? Abafa.
Fonte: Google
9- Valorize seu exame de qualificação.
Vejo muita gente desesperada com
o exame de qualificação. São dúvidas diversas. Desde quantas páginas devem ter
até qual lanche levar para a banca (!). O essencial para mim é ver esse momento
como um divisor de águas. Você escreve uma abordagem inacabada da estrutura da
sua dissertação contendo, preferencialmente, os autores com quem vai trabalhar,
os conceitos fundantes, algumas operações conceituais, a metodologia que
escolheu e os apontamentos para a pesquisa, que pode até estar concluída, mas
que ainda precisa balizar os tópicos descritivos e interpretativos.
A banca, nesse caso, vai ler sua
produção e te dar sugestões e orientações específicas para seu texto final.
Essa banca, geralmente no Brasil é composta de 3 professores doutores e é
mantida para sua defesa. O exame de qualificação, em geral, é feito um ano após
sua aprovação, mas ainda não é sua defesa. É um momento intermediário, onde
alguém além do seu orientador vai falar sobre a sua proposta de trabalho.
Depois de feito o texto e
remetido para a banca, acontece seu exame. Em alguns programas de pós-graduação,
esse momento é aberto. Minha dica é não convidar ninguém. No máximo seu grupo
de pesquisa. Não convide parentes ou amigos que não conhecem os rituais
acadêmicos. A família não ajuda nesse momento.
Seria bom gravar em áudio, se a
banca permitir, as falas dos professores para você enriquecer seu trabalho.
Outra dica valiosa, que eu gostaria de saber durante o mestrado é tirar uma foto
da ata do exame de qualificação (com permissão, claro). Na ata, seu orientador
descreve os principais apontamentos da banca para seu texto de defesa de
mestrado. Quais objetivos e ideias para desenvolvimento da pesquisa, por
exemplo. Muitas vezes a ata vai servir de norteador da banca para as
intervenções no dia da defesa.
10- Você pode escrever a dissertação!
É um grande projeto fazer
mestrado ou doutorado. Muita gente já fez isso antes de você e muitos mais
(assim eu espero) farão depois. Você pode fazer isso. Muitas vezes o desânimo e
até patologias mais graves podem nos atingir, tomando como porta de entrada a
sensação de ser impostor ou de não ser capaz de executar esse projeto. Muitas
manhãs eu relutava em ir à aula ou a pesquisa achando que não conseguiria
escrever, especialmente porque descobri uma gravidez com 16 meses de curso de
mestrado. Fiz o exame de qualificação com 25 semanas de gestação e defendi no
dia que meu filho fez 5 meses. Duvidei da minha capacidade de concluir essa
tarefa e digo para você: você pode! Confia. Peça ajuda, negocie, planeje-se,
tire uma folga, volte a escrever, diga sins, diga nãos, comemore pequenas
conquistas, equilibre-se.
A vida acadêmica deve ser
sustentável, com método, paixão e, sobretudo, equilíbrio. Escrever está muito
mais para maratona do que para corrida de 100 metros. Respira e vai!
Com amor,
Ju.
Amei essas dicas Ju!
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